Os comportamentos fúteis da sociedade de consumo na pandemia

Renan Vicente da Silva
2 min readMar 23, 2021
Charge de Quinho Ravelli (quinho_cartum) sobre aglomerações nos bares e restaurantes

A insanidade das pessoas, principalmente, as mais ricas em dinheiro é a evidência do desprezo para com os outros seres humanos e não-humanos. Nos mostra que o projeto neoliberal, de introjetar na subjetividade um individualismo patológico, deu certo. Essa classe média financeira apenas pensa na sua própria vida privilegiada, contudo tínhamos esperanças de que mudaria com a pandemia, mas nada mudou. Continuamos convivendo com a naturalização da doença pelo dinheiro, que ainda cria a ideia do novo normal, quando na verdade, nunca fomos normais.

E observando as movimentações pelas mídias sociais, vejo uma falta de responsabilidade doentia. Essa futilidade existencial é uma triste realidade que permeia nossa sociedade de consumo, e nos levará a morte. Já estamos vivendo o tombar diário de quase três mil corpos, porém muitos outros continuam tomando suas cervejas nos bares, dançando nas boates, jantando nos restaurantes. Numa tentativa de normalizar o inormalizável. É difícil acompanhar esses atos individualistas, tão próximos de mim, no distrito de Ipiabas, território que estou fixo desde 16 de março de 2020. Na possibilidade de fugirem dos centros urbanos contagiosos, respiram nos espaços interioranos, sem máscara, sem qualquer cuidado nas aglomerações mortais.

Diante desse contexto, é difícil pensarmos no amanhã, pois o hoje está em colapso. Pela ganância matamos e morremos, na falsa esperança de que está tudo normal. Os dias serão melhores quando reconhecermos nossa falência de viver em prol do dinheiro no detrimento da vida. Essa mudança de comportamento permitirá enxergarmos outros caminhos possíveis, além da materialidade corrosiva do ter ao invés de ser. Só alcançaremos esse devir no despertar para o mundo que tentamos sobreviver numa pandemia sem precedentes. Por fim, isso só será viável se estivermos juntes, no isolamento físico, mas não social, pensando e agindo em coletivo.

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Ipiabas, 23 de março de 2021

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