Meu corpo vacinado

Renan Vicente da Silva
2 min readJan 12, 2022
Uma vacina coletiva (reprodução: Jean Julien — @jean_jullien)

As vacinas são o caminho, não a solução para nossos colapsos existenciais. Como bem escrevi em outro momento nesta plataforma, mesmo ainda não tendo sido vacinado contra o vírus da COVID-19. No hoje, me encontro completo em relação ao esquema vacinal. Indo além, com a dose de reforço. E a partir desse corpo vacinado que escrevo para com vocês diante de um mundo pandêmico. Na possibilidade de cultivar algumas calmarias necessárias para continuarmos respirando coletivamente. Já que apenas na união dos povos planetários conseguiremos interromper as transmissibilidades desse vírus. Enquanto aguardamos uma próxima crise sanitária, pois continuamos caminhando para o ‘novo normal’. Um normal que é anti-natural. Anti-vida. Mas retornando para meu corpo vacinado gostaria de compartilhar algumas sensações e emoções.

Me recordo do dia da vacinação. É o evento mais central de uma sociedade em pandemia. Se vacinar, tornou-se um espetáculo. Várias pessoas postando seus braços penetrados por uma agulha, de uma seringa, com uma ligeira dose vacinal. Um comportamento tão banal nos tempos não-pandêmicos. Na verdade, existia um movimento anti-vacina aqui e acolá, mas não havia um anti-presidente. Como vivemos na atualidade. E uma batalha dos vacinados, que são a grande maioria dos povos brasileiros. E os não-vacinados. Esses últimos sendo controlados e influenciados por canais negacionistas que lucram milhões de reais para criar mentiras. Essa é mais uma marca das deformações do sistema capitalista-neoliberal. Sua perfeição está em acumular dinheiro, na aplicação ou não das vacinas com as indústrias farmacêuticas e os canais de extrema-direita. Voltamos ao grande ator que apodrece nossas vidas. O dinheiro é o nosso vírus fatal.

Ainda tentando narrar, com alguns detalhes, o dia em que fui envolvido pela primeira dose. Confesso que não encontro lembranças significativas, pois foi um ato que sempre fiz ao longo da minha vida. Me vacinar é um exercício de amor-solidário. Em pensar nas outras pessoas mais vulneráveis das doenças infectocontagiosas que transbordam da nossa podridão. Ao sentir entrar nos meus músculos e veias o líquido salvador, fui envolto de esperança e desesperança. Uma contradição necessária para sermos vacinades. A minha ingenuidade se desfez conforme minha cicatriz imunológica se fez presente. Somos gratos pelas vacinas, mas é urgente compreendermos sua função de anestesia dos danos provocados pelo sistema colonial.

Se vacinar, tornou-se também uma manifestação de comunhão e união. Algo que só conseguimos germinar por meio da nossa solidariedade humana, que aflora nos tempos mais difíceis. Qualquer dúvida em relação as vacinas procurem informações científicas verdadeiras. Me coloco disponível para te escutar, acolher e guiar. Precisamos estar juntes com nossos corpos vacinados. Para impedirmos uma próxima pandemia.

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Ipiabas, 11 de janeiro de 2022

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