A luta negra pelo direito de respirar

Renan Vicente da Silva
2 min readNov 21, 2020
ABDIAS NASCIMENTO, Xangô n. 2. Acrílico sobre tela, 51 x 102. Buffalo, EUA, 1978.

No hoje, dia 20 de novembro de 2020, vivemos mais um dia na recordação de Zumbi dos Palmares, nosso mais velho e inspiração de cada amanhecer no esperançar do povo negro. Já que viver em uma sociedade racista é lutar pelo direito de respirar. Somos asfixiados nas esquinas, vielas, guetos, asfaltos, supermercados, universidades, escolas. Nossas vidas não importam. E nunca importarão enquanto continuarmos usando máscaras brancas. Precisamos ecoar nosso grito de reafirmação da nossa negritude em todos os espaços possíveis e impossíveis.

Nesse sentido, irmos ao encontro da África que pulsa nos nossos corpos negros dissidentes diaspóricos, como nos encanta Katiúscia Ribeiro, mulher negra, mestra e doutoranda em Filosofia Africana pela UFRJ, sobre a transcendência da ancestralidade em nós:

Como compreender quem somos se não nos perguntamos o que éramos, ou melhor, de onde éramos? Ancestralidade não pode ser definida apenas como uma árvore genealógica, está muito além disso, ela percorre a linha sanguínea do tempo e firma-se na existência. Ela é uma forma respeitosa de honrar e (re)lembrar dos nossos antepassados. Para as pessoas pretas a ancestralidade é a chave que abre os portais de sua realidade histórica, filosófica, linguística e culturalmente para um projeto de povo. Ancestralidade é mais que uma reflexão, ancestralidade é um princípio filosófico que rompe os muros da academia e chega até a cadeira de sua avó ou de seu avô como voz de sabedoria que conta através de suas oralituras — leituras de oralidade — a compreensão da sua existência.

A nossa verdadeira libertação está na ancestralidade africana, na construção de memória do ser negro, que resiste e existe em nossos interiores. É o oxigênio subjetivo para continuarmos respirando no meio de tanta violência física e simbólica, promovida pela desigualdade racial. A luta é contínua, não retornaremos para as senzalas sociais, nossos quilombos sensíveis-afetivos alcançam centralidade com cada corpo negro em pé, aqui e agora.

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Ipiabas, 20 de novembro de 2020

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